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Uso do regulador de crescimento etil-trinexapac em arroz de terras altas

Use of trinexapac-ethyl growth regulator in upland rice

Resumos

O trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar o uso de doses de etil-trinexapac (0; 75; 150; 225 e 300 g ha-1 de i.a.) e épocas de aplicação (perfilhamento ativo, entre o perfilhamento ativo e a diferenciação floral e na diferenciação floral) no desenvolvimento e na produtividade da cultura do arroz de terras altas. O experimento foi desenvolvido no município de Selvíria (MS), durante o ano agrícola de 2006/2007. Concluiu-se que a aplicação de 150 g ha-1 de etil-trinexapac na fase da diferenciação floral do arroz cultivar Primavera reduz a altura de plantas, em média 0,40 m, em relação à aplicação nas fases do perfilhamento ativo e, entre o perfilhamento ativo e a diferenciação floral, com ausência de acamamento; o etil-trinexapac, em doses acima 150 g ha-1, promove maior número de grãos chochos, reduzindo a produtividade de grãos, quando aplicado na fase da diferenciação floral e, a dose de 150 g ha-1 de etil-trinexapac em qualquer época de aplicação não interfere na produtividade da cultura.

Oryza sativa L.; reguladores vegetais; irrigação por aspersão; giberelina


This work was developed with the objective of evaluating the use of trinexapac-ethyl doses (0, 75, 150, 225 and 300 g of the a.i. ha-1) and application times (active tillering, between active tillering and floral differentiation and at floral differentiation) in upland rice crop development and yield. The experiment was carried out in Selvíria-MS, during the agricultural year of 2006/07. Application of 150 g ha-1 of trinexapac-ethyl in Primavera rice cultivar at panicle initiation differentiation reduces plants height, 0.40 m on average comparing to other times, with lodging absence. Trinexapac-ethyl promotes lange number of abnormal grains, reduction of grain yields in doses above 150 g ha-1, when applied in panicle initiation differentiation stadium. Application of 150 g ha-1 of trinexapac-ethyl at any time does not interfere in crop yield.

Oryza sativa L.; plant growth regulators; sprinkler irrigation; gibberellin


Uso do regulador de crescimento etil-trinexapac em arroz de terras altas1 1 Recebido para publicação em 5 de novembro de 2007 e aceito em 28 de maio de 2009.

Use of trinexapac-ethyl growth regulator in upland rice

Vagner Do NascimentoI; Orivaldo ArfI; Matheus Gustavo Da SilvaI; Flávio Ferreira Da Silva BinottiI; Ricardo Antônio Ferreira RodriguesI; Rita De Cássia Felix AlvarezII

IFEIS/UNESP, Curso de Agronomia, Caixa Postal 31, 15385-000 Ilha Solteira (SP), E-mail: vagner@gmail.com; arf@agr.feis.unesp.br, Autor correspondente; matheus@agr.feis.unesp.br; ricardo@agr.feis.unesp.br IIUniversidade Federal do Mato Grosso do Sul, UFMS, Curso de Agronomia, Caixa Postal 112, 79560-000 Chapadão do Sul (MS), E-mail: rcalvarez@pop.com.br

RESUMO

O trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar o uso de doses de etil-trinexapac (0; 75; 150; 225 e 300 g ha-1 de i.a.) e épocas de aplicação (perfilhamento ativo, entre o perfilhamento ativo e a diferenciação floral e na diferenciação floral) no desenvolvimento e na produtividade da cultura do arroz de terras altas. O experimento foi desenvolvido no município de Selvíria (MS), durante o ano agrícola de 2006/2007. Concluiu-se que a aplicação de 150 g ha-1 de etil-trinexapac na fase da diferenciação floral do arroz cultivar Primavera reduz a altura de plantas, em média 0,40 m, em relação à aplicação nas fases do perfilhamento ativo e, entre o perfilhamento ativo e a diferenciação floral, com ausência de acamamento; o etil-trinexapac, em doses acima 150 g ha-1, promove maior número de grãos chochos, reduzindo a produtividade de grãos, quando aplicado na fase da diferenciação floral e, a dose de 150 g ha-1 de etil-trinexapac em qualquer época de aplicação não interfere na produtividade da cultura.

Palavras-chave:Oryza sativa L., reguladores vegetais, irrigação por aspersão, giberelina.

ABSTRACT

This work was developed with the objective of evaluating the use of trinexapac-ethyl doses (0, 75, 150, 225 and 300 g of the a.i. ha-1) and application times (active tillering, between active tillering and floral differentiation and at floral differentiation) in upland rice crop development and yield. The experiment was carried out in Selvíria-MS, during the agricultural year of 2006/07. Application of 150 g ha-1 of trinexapac-ethyl in Primavera rice cultivar at panicle initiation differentiation reduces plants height, 0.40 m on average comparing to other times, with lodging absence. Trinexapac-ethyl promotes lange number of abnormal grains, reduction of grain yields in doses above 150 g ha-1, when applied in panicle initiation differentiation stadium. Application of 150 g ha-1 of trinexapac-ethyl at any time does not interfere in crop yield.

Key words: Oryza sativa L., plant growth regulators, sprinkler irrigation, gibberellin.

1. INTRODUÇÃO

A produção do arroz de terras altas, irrigado por aspersão, tem estimulado o uso de fertilizantes nitrogenados, que associado ao adequado suprimento de água pode resultar em maior altura das plantas e índices de até 100% de acamamento. Dentre as formas para solucionar o problema de acamamento estão o uso de cultivares resistentes, o manejo adequado da água e do nitrogênio. É importante ressaltar que os agricultores dão preferência a algumas cultivares pelos grãos do tipo agulhinha, os quais têm propensão ao acamamento.

Outra possibilidade para reduzir a altura de plantas de arroz de terras altas, e consequentemente o acamamento, seria a aplicação de reguladores vegetais. Na literatura tem se verificado a viabilidade do uso de reguladores vegetais em culturas anuais, como o trigo; algodão e cana-de-açúcar. Entretanto, essas informações são escassas para a cultura do arroz. Os reguladores vegetais são compostos sintéticos aplicados sobre as plantas, para obtenção de diversos efeitos, tais como o de promover, retardar ou inibir o crescimento vegetativo, sem diminuição na produtividade (Rademacher, 2000; Biasi, 2002). A maioria dos reguladores que atuam como retardantes vegetais age por inibição da biossíntese de giberelinas e outros hormônios que entre várias ações promovem o alongamento celular (Davies, 1995). O etil-trinexapac é um regulador com forte ação na inibição da alongação dos entrenós, o que reduz a estatura da planta e evita, dessa forma, o acamamento e perdas na produtividade associadas a esse fenômeno (Naqvi, 1994; Taiz e Zeiger, 1998).

Resultados recentes de resistência ao acamamento, relativos à avaliação do efeito do etil-trinexapac em várias doses de aplicação, foram obtidos com a cultura do trigo. Neste estudo, chuvas e ventos fortes durante o ciclo da cultura foram responsáveis pelo acamamento, principalmente nos tratamentos que não receberam o redutor de crescimento (Embrapa, 2003). Os efeitos do regulador de crescimento sobre o algodoeiro dependem de vários fatores, podendo-se destacar: temperatura; população de plantas; época de semeadura; cultivar; época de aplicação e doses utilizadas (York, 1983; Reddy et al., 1990; Reddy et al.,1992; Wallace, 1993; Carvalho et al., 1994). O etil-trinexapac também é utilizado como maturador de cana-de-açúcar e promove aumento de rendimento de açúcar sem impacto negativo na qualidade do caldo, no conteúdo de fibras ou na massa da cana. Em adição a estes benefícios, a aplicação de etil-trinexapac não afeta a produção de perfilhos, altura da planta ou o diâmetro dos colmos, na safra seguinte (Resende et al., 2001).

Na busca de resultados que evidenciem sua utilização adequada, objetivou-se avaliar o efeito de doses e as épocas de aplicação de etil-trinexapac no desenvolvimento e na produtividade da cultura do arroz de terras altas em preparo convencional do solo, visando reduzir a altura e evitar possível acamamento das plantas de arroz ao longo do ciclo.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado no município de Selvíria, MS (20º22' S; 51º22' O e altitude de 335 m), no ano agrícola 2006/2007. O solo do local é do tipo Latossolo Vermelho Distrófico, textura argilosa (Embrapa, 1999). A precipitação pluvial média anual é de 1370 mm, a temperatura média anual, de 23,5 ºC e a umidade relativa do ar média anual oscila entre 70 e 80%. Os valores diários da precipitação pluvial e temperatura do ar, máxima e mínima, foram registrados durante o período de manejo do experimento de arroz de terras, no ano agrícola de 2006/2007 (Figura 1).


Antes da instalação do experimento foi coletada amostra composta, originada de 20 amostras simples, do solo da área experimental, na camada de 0 a 0,20 m. A análise da fertilidade do solo, segundo método descrito em Raij e Quaggio (1983), revelou os seguintes valores: MO = 13 g dm-3; P resina = 28 mg dm-3; pH (CaCl2) = 4,9; K+ = 3,1 mmolc dm-3; Ca+2 = 16 mmolc dm-3; Mg+2 = 4 mmolc dm-3; H+Al = 20 mmolc dm-3 e V = 54%.

O delineamento experimental foi em blocos casualizados disposto em esquema fatorial 5 x 3. Os tratamentos foram constituídos pela combinação de cinco doses de etil-trinexapac (0, 75, 150, 225 e 300 g ha-1 de i.a.), aplicado em três fases de desenvolvimento das plantas (perfilhamento ativo; entre o perfilhamento ativo e a diferenciação floral e na diferenciação floral), com quatro repetições.

O experimento foi instalado em área previamente cultivada com milho (outubro a março, do ano anterior) e após o pousio no período do inverno. O preparo do solo da área foi o convencional, com escarificação e gradagem niveladora. As parcelas foram constituídas por 6 linhas de 6,0 m de comprimento, espaçadas de 0,35 m. A área útil foi constituída por quatro linhas centrais, desprezando 0,50 m em ambas as extremidades de cada linha. A adubação básica nos sulcos de semeadura foi calculada de acordo com as características químicas do solo e levando-se em consideração as recomendações de Cantarella e Furlani (1996), sendo constituída de 150 kg ha-1 da formulação 08-28-16. A semeadura foi realizada mecanicamente em 06 de novembro de 2006, considerando um estande final de 180 plantas por metro quadrado. O tratamento de sementes foi realizado com thiodicarb + óxido de zinco (450 + 375 g 100 kg de sementes de i.a.).

O adubo nitrogenado, utilizando como fonte a uréia, na dose de 50 kg ha-1 de N, foi aplicado 29 dias após a emergência (DAE) das plântulas. Utilizou-se a cultivar Primavera, plantas do tipo intermediário, cujas características são: porte médio (1,0 a 1,2 m); ciclo curto (112 dias); 80 dias da emergência ao florescimento e moderadamente suscetível ao acamamento (Breseghello et al., 1998).

A área foi irrigada com sistema fixo de irrigação convencional por aspersão com vazão de 3,3 mm h-1 nos aspersores. No manejo de água foram utilizados três coeficientes de cultura (Kc), distribuídos em quatro períodos compreendidos entre a emergência e a colheita. Para a fase vegetativa foi utilizado o valor de 0,4; para a fase reprodutiva foram dois valores de Kc, o inicial de 0,7 e o final de 1,0 e para a fase de maturação estes valores foram invertidos, ou seja, o inicial de 1,0 e o final de 0,7 (Rodrigues et al., 2004).

O regulador vegetal foi aplicado na forma de jato dirigido, com pulverizador manual tipo costal com volume de calda aproximado de 200 L ha-1, utilizando-se bico hidráulico, tipo jato cônico vazio. As aplicações foram realizadas no período da manhã, das 8 às 9h, com ausência ou pouca incidência de vento, usando um anteparo para evitar deriva para outras parcelas.

O controle de plantas daninhas foi realizado com a utilização de herbicidas aplicados com pulverizador costal. Logo após a semeadura, aplicou-se o herbicida pendimethalin (1400 g ha-1 de i.a.) em pré-emergência. Já em pós-emergência, o controle químico foi realizado utilizando o herbicida metsulfuron methyl (2,0 g ha-1 do i.a.). As demais plantas daninhas não controladas pelos herbicidas foram eliminadas com auxílio de enxada.

As avaliações realizadas, por parcela, foram: florescimento - dias transcorridos entre a emergência e a floração de 50% das plantas; ciclo - dias transcorridos entre a emergência e a maturação de 90% das panículas; altura de plantas - média das distâncias da superfície do solo até a extremidade superior da panícula mais alta, determinada em 10 plantas ao acaso; acamamento de plantas - obtido por observações visuais na fase de maturação, utilizando-se a seguinte escala de notas: 0 = sem acamamento; 1 = até 5% de plantas acamadas; 2 = 5% a 25%, 3 = 25% a 50%; 4 = 50% a 75% e 5 = 75% a 100% ; nitrogênio nas folhas - coletados 30 limbos foliares (folha bandeira), no início do florescimento, que após secagem em estufa, foram moídos e submetidos à digestão sulfúrica (Malavolta et al., 1997); número de colmos e de panículas por metro quadrado - contagem de colmos ou panículas em 1,0 m de fileira de plantas e posteriormente convertido em colmos ou panículas por metro quadrado; perfilhamento útil - relação entre número de panículas e colmos por metro quadrado; número total de grãos por panícula - contagem dos grãos de 20 panículas coletadas no momento da colheita; número de grãos cheios e chochos por panícula - contagem de grãos cheios e chochos após separação dos mesmos por fluxo de ar, obtidos com as amostras utilizadas para a determinação do número total de grãos ; massa de cem grãos - massa de duas amostras de cem grãos; massa hectolítrica - determinada em balança especial para massa hectolítrica, utilizando-se duas amostras e, produtividade de grãos - massa dos grãos provenientes da área útil, convertida em kg ha-1. Os valores das massas foram corrigidos para umidade de 13% (base úmida).

Os dados foram submetidos à análise de variância e, posteriormente, à análise de regressão polinomial para o fator quantitativo (doses do regulador crescimento) e teste de Tukey para o fator qualitativo (épocas de aplicação do regulador vegetal).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A emergência das plântulas ocorreu em 12 de novembro de 2006 aos seis dias após a semeadura e de maneira uniforme em todas as parcelas.

Pelos resultados de floração e colheita expressos em dias após a emergência das plântulas, verificou-se interação significativa entre época de aplicação e doses do regulador (Tabela 1). Observando épocas dentro de doses, verificou-se que em doses superiores a 75 g ha-1 houve diferença para as épocas de aplicação, sendo constatado maior número de dias para ocorrer a floração para a aplicação na fase da diferenciação floral e menor na fase do perfilhamento ativo.

Na dose de 75 g ha-1, o menor valor foi para a época de aplicação nas fases de perfilhamento e entre o perfilhamento ativo e a diferenciação floral, os quais diferiram da DF. Para doses dentro de épocas (Tabela 1), verificou-se que para as doses do regulador não houve efeito significativo com a época de aplicação em P. Em P-DF e DF os dados se ajustaram, respectivamente, à função linear e quadrática.

Observando os dados de número de dias para a colheita e épocas dentro de doses (Tabela 1), as doses de 75 a 300 g ha-1 em DF retardaram a colheita de 3 a 4 dias em relação à aplicação em P e de 2 a 3 dias em relação a P-DF. Para doses dentro de épocas, verificou-se um ajuste linear, para épocas de aplicação nas fases P e P-DF e, quadrática para a DF, ocorrendo aumento do ciclo da cultura em função do aumento nas doses do regulador.

Quanto à altura de plantas e acamamento, houve interação significativa entre épocas de aplicação e doses do regulador de crescimento etil-trinexapac (Tabela 2). Considerando as doses dentro de épocas, verificou-se que na fase P as doses de aplicação do regulador de crescimento não foram significativas. Entretanto, a aplicação realizada na fase P-DF reduziu a altura de plantas, com ajuste dos dados a uma equação linear e alturas superiores a 1 m . Também ocorreu redução na altura de plantas de arroz com a aplicação em DF e os dados se ajustaram a uma função quadrática, visto que a partir da dose de 150 g ha-1 os valores observados foram inferiores a 1 m. Para épocas dentro de doses de aplicação verificou-se que não houve diferença significativa para o tratamento sem uso do regulador. Para as doses 75 e 150 g ha-1 não houve diferenças para a aplicação na fase P e P-DF, porém, diferiram de DF, na qual se obteve a menor altura de plantas. Entretanto, para as doses de 225 e 300 g ha-1, houve diferença para as três épocas de aplicação, sendo observada menor altura para a aplicação do regulador em DF. As doses crescentes de etil-trinexapac causaram efeito na planta, promovendo, dessa forma, a redução na sua altura.

Comportamento semelhante foi observado por Alvarez (2003) que, estudando o efeito do etil-trinexapac na redução da altura da planta de arroz irrigado por aspersão, aplicado em DF, verificou que o regulador vegetal, na dose de 200 g ha-1 de i.a., reduziu a altura da planta em 0,34 m. Essa resposta é comum com o uso de reguladores vegetais, neste caso utilizados com a intenção de retardar o crescimento das plantas, sem ocasionar redução na produtividade (Rademacher, 2000; Biasi, 2002). Entretanto, Buzetti et al. (2006) verificaram que a aplicação do regulador de crescimento cloreto de clormequat não influenciou na altura de plantas de duas cultivares de arroz de terras altas.

Em relação ao acamamento das plantas, verificou-se comportamento semelhante ao obtido para a altura das plantas (Tabela 2). Com relação a épocas dentro de doses, a partir da dose de 75 g ha-1 já houve drástica redução no acamamento das plantas quando a aplicação foi realizada na diferenciação floral. No que se refere às doses dentro de épocas de aplicação, os dados se ajustaram à função linear para a aplicação na fase P-DF e equação quadrática quando a aplicação do regulador foi realizada em DF. Portanto, a aplicação de doses de 75 a 150 g ha-1 do regulador de crescimento em DF minimiza ou elimina o problema do acamamento de plantas da cultivar Primavera.

Quanto ao teor de N nas folhas (Tabela 3) verificou-se que não houve efeito significativo da época de aplicação e de doses do regulador de crescimento utilizado, com os valores obtidos estando dentro do ideal preconizado por Cantarella e Furlani (1996). Alvarez et al. (2007a), avaliando a influência do regulador de crescimento etil-trinexapac na distribuição de N (15N) nas partes e na planta inteira de arroz, verificaram que a aplicação do regulador reduziu o acúmulo de 15N na panícula, promoveu a redistribuição do 15N absorvido e o aumento do 15N acumulado na raiz, colmo + bainha e folhas. No presente trabalho, o não-aumento no teor de N nas folhas pode ser consequência indireta da maior quantidade de panículas nas plantas tratadas com o regulador de crescimento. Essa situação representaria um dreno de N e assim impediria a redistribuição de N nas plantas.

Considerando o número de colmos e panículas por metro quadrado (Tabela 3), houve apenas efeito das doses do regulador, com os valores se ajustando a uma função linear crescente. Entretanto, Buzetti et al. (2006) estudaram doses de zero a 2 L ha-1 de cloreto de clormequat, nas cultivares de arroz IAC 201 e IAC 202 e não verificaram diferença no número de panículas e, Alvarez et al. (2007b) estudaram reguladores vegetais e doses, na cultivar Primavera, e também não verificaram efeito no número de colmos e panículas por metro quadrado. Esses dados reforçam que o efeito do regulador de crescimento é dependente do momento e da dose de aplicação (Dunand, 2003) e cultivar (Rajala e Peltonen-Sainio, 2001). No trabalho de Alvarez et al. (2007 b), foi aplicado o etil-trinexapac no período de perfilhamento, enquanto no presente trabalho, o regulador foi utilizado no perfilhamento, entre o perfilhamento e a diferenciação floral e, na diferenciação floral e, no de Buzetti et al. (2006) foi utilizado outro regulador, o cloreto de clormequat, com a aplicação parcelada aos 20 e 30 dias após a emergência das plântulas de arroz.

O perfilhamento útil foi influenciado pela época de aplicação (Tabela 3), sendo o maior valor observado para a aplicação do regulador em P e o menor em DF e, ambos, não diferiram da aplicação em P-DF.

Os resultados indicam que o regulador de crescimento influenciou nos componentes produtivos, no número de colmos e nas panículas por metro quadrado e, no perfilhamento útil, os quais, normalmente se correlacionam com a produtividade. O resultado dessas alterações é o aparecimento de plantas mais compactas, com melhor direcionamento dos fotoassimilados para a produção de grãos (Zagonel et al., 2002).

O número de grãos totais e cheios por panícula foi influenciado apenas pelas doses do regulador (Tabela 4). Observou-se menor número de grãos por panícula quanto maior a dose utilizada, com os dados se ajustando à equações lineares decrescentes. Resultado semelhante foi observado por Alvarez (2003) que verificou influência negativa neste componente da produção. Já Buzetti et al. (2006) verificaram que a aplicação de regulador de crescimento não influenciou o comprimento da panícula e para o número de grãos por panícula houve ajuste à equação linear decrescente, no primeiro ano e, crescente no segundo, indicando existência de interação entre o regulador de crescimento e as condições climáticas. Os autores verificaram que no primeiro ano, as plantas foram maiores, com melhor perfilhamento, maior índice de fertilidade e maior produtividade de grãos. Vale ressaltar que no presente estudo houve aumento no número de colmos e de panículas em função do aumento nas doses do regulador de crescimento o que pode ter contribuído para a redução no número de grãos por panícula.

Em relação ao número de grãos chochos por panícula verificou-se efeito significativo entre época de aplicação e doses (Tabela 5). A aplicação de 225 e 300 g ha-1 do regulador em DF proporcionou maior número de grãos chochos por panícula. Para doses dentro de épocas de aplicação, os dados se ajustaram a equações lineares para as aplicações realizadas nas fases P e DF, sendo decrescente no primeiro caso e crescente no último. Já para a aplicação realizada na fase P-DF os dados se ajustaram à função quadrática. Segundo Alvarez et al. (2007b), o aumento na proporção de grãos chochos pode ser resultado dos efeitos do regulador na formação de flores (estames e ovários) e na meiose, o que justificaria o aumento desse tipo de grão quando a aplicação do regulador foi realizada em DF.

No que se refere aos valores obtidos para massa de cem grãos e massa hectolítrica houve efeito significativo para época de aplicação e também para doses utilizadas (Tabela 6). Quanto à época de aplicação os maiores valores, para massa de cem grãos e hectolítrica, foram obtidos com aplicação em P-DF. No caso das doses os valores se ajustaram às equações quadráticas tanto para a massa de 100 grãos quanto para a massa hectolítrica. O aumento na massa de cem grãos e massa hectolítrica em função das doses do regulador pode ser explicado pela redução na altura de plantas. Assim, os fotoassimilados que seriam destinados à alongação da planta na ausência de regulador foram destinados para melhorar o enchimento dos grãos na presença do regulador de crescimento e, como conseqüência resultando em maior massa de cem grãos e massa hectolítrica.

Quanto à produtividade, houve interação significativa entre as épocas de aplicação e as doses do regulador de crescimento etil-trinexapac (Tabela 7). Para época dentro de doses, verificou-se que não houve diferenças entre as épocas de aplicação até a dose de 150 g ha-1 do regulador (Tabela 7). Apenas nas doses de 225 e 300 g ha-1 a aplicação do regulador de crescimento propiciou diferenças de produtividade. A redução excessiva do colmo e o retardamento do espigamento são conseqüências da aplicação tardia e podem, dependendo das condições, provocar prejuízos na produtividade de grãos. Alvarez et al. (2007b) também mencionam que o efeito de redução na produtividade de grãos acarretada pela aplicação do etil-trinexapac pode estar associada às doses empregadas, entretanto, esses valores comparados aos da literatura foram maiores. Para doses dentro de época de aplicação, verifica-se que os dados se ajustaram à equação linear crescente para a aplicação na fase P-DF e equação quadrática para aplicação em DF. Entretanto, Buzetti et al. (2006) verificaram que a aplicação de regulador de crescimento (cloreto de clormequat) não influencia a produtividade da cultura do arroz. Da mesma forma, não houve prejuízo na produtividade da cultura de trigo com a aplicação do etil-trinexapac, sendo observado efeito positivo do regulador de crescimento na produtividade do trigo, provavelmente resultado do controle de acamamento, pela redução do porte das plantas (Embrapa, 2003) e pelo aumento do número de espigas por metro (Zagonel et al., 2002).

4. CONCLUSÃO

O etil-trinexapac deve ser aplicado na dose de 150 g ha-1, por ocasião do início da diferenciação floral da cultivar de arroz Primavera, considerando a redução na altura de plantas, a eliminação do acamamento e a produtividade de grãos.

AGRADECIMENTOS

À UNESP-Campus de Ilha Solteira e FAPESP, pelos recursos humanos e materiais e, ao CNPq, pela concessão da bolsa de mestrado.

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    Recebido para publicação em 5 de novembro de 2007 e aceito em 28 de maio de 2009.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Mar 2010
    • Data do Fascículo
      2009

    Histórico

    • Aceito
      28 Maio 2009
    • Recebido
      05 Nov 2007
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